História da Sociedade


Na segunda metade do século XIX, as chamadas Filarmónicas, Bandas Civis ou apenas Bandas, apareceram em todo o Continente e Ilhas, conhecendo-se de imediato a sua participação nas Festas religiosas Tradicionais o que, decerto, originou o desenvolvimento de muitas destas Associações Musicais. Este surto de Sociedades Filarmónicas cujo apogeu se deu entre 1850 e 1890 e que coincidiu em parte com a Regeneração, foi possível graças às novas condições sociais, económicas e politicas que alteraram o modo de viver, o quotidiano das populações, sobretudo nas zonas urbanas. Neste novo contexto em que surgiram diferentes tipos de diversão, no âmbito da cultura burguesas, generalizou-se o gosto pela música, que atingiu também as classes populares que passaram a apreciar varias manifestações artísticas. Em 1880 havia cerca de 160 Filarmónicas no pais, o que demonstrava o crescente entusiasmo pela Musica que passou a marcar presença obrigatória em todos os actos públicos, Festivais e Comemorações. Contudo ao nível de uma certa elite mais culta, a realização do Primeiro Concerto Publico em Lisboa por João Domingos Bomtempo, acompanhado pela sua Sociedade Filarmónica ocorrera já em 1822. Assim, além das Bandas Militares que já existiam, como reflexo do que se passava em Lisboa, foram aparecendo vários agrupamentos musicais populares em alguns centros urbanos do País, normalmente à custa de boas vontades, sacrifícios e verdadeiro espírito de serviços. A Sociedade Filarmónica 1º de Dezembro foi fundada em Aldegalega do Ribatejo )nome antigo do Montijo) no ano de 1854, sendo assim a mais antiga Associação local do género. Entretanto em 1868 por ocasião do restabelecimento da Comarca em Aldegalega vinda da Moita, houve grandes manifestações populares acompanhadas por um "solidó" improvisado, uma vez que não existia nenhuma banda organizada na vila. Alguns músicos do referido "solidó" justamente com outros elementos foram os fundadores da nova Sociedade, cuja sede situada na Rua da Calçada, actual Rua da Bela Vista,, possuía um pequeno teatro. A nova Sociedade tornou-se mais organizada pelo esforço de Cristiano Godinho e Luís Eloy Nunes, que com mais alguns músicos do referido "solidó", entre outros, José Luís Figueira, Francisco Vidal Soeiro, António Marques e José Cipriano Salgado lançaram as bases da Colectividade. Nessa altura, a actividades da Sociedade contemplava para além da prática musical, o Teatro, os Bailes, os Bazares, as Quermesses, a leitura de jornais, o Bilhar, o Loto e os jogos de mesa, bem ao gosto da época vivida. A participação da Banda para Abrilhantar diversas Festas Tradicionais locais e nos arredores era outra actividade importante da Sociedade. Contudo o dia mais importante nas comemorações da Sociedade é o dia 1 de Dezembro não só pelo o seu aniversario mas também por ser uma data de comemoração do Dia da Independência. De manhã muito cedo, à semelhança dos fidalgos conspiradores no dia da revolução, os filarmónicos percorriam as ruas da vila tocando o Hino da Restauração, após o lançamento de foguetes para grande contentamento da população. A sede da Sociedade bem como os principais edifícios locais - Câmara Municipal e Tribunal - eram embandeirados e iluminados.Em 1876 sob a regência do Maestro Francisco Pedro Symaria, a Filarmónica conseguiu o 1º Prémio no concurso de Bandas no Jardim de Whittoyne em Lisboa , o que foi um importante triunfo para a pequena e desconhecida Banda de Aldegalega. Com a transição da Monarquia para a República e depois com as dificuldades resultantes da 1ª Guerra Mundial, a Sociedade conheceu momentos muito difíceis, no que diz respeito a problemas financeiros graves, que não atingiram maiores proporções devido ao grande espírito de solidariedade existente entre os sócios. Para isso também contribuiu a acção de alguns beneméritos que ajudaram a Sociedade ao longo dos anos, destacando-se José Maria dos Santos, António Santos Jorge e Samuel Santos Jorge, da Casa de Rio Frio. Apesar de resultarem, certamente de algum apoio politico em actos eleitorais por parte do núcleo da Sociedade, as ofertas em dinheiro e a concessão de curros para as touradas salvaram muitas vezes a sua precária situação financeira. No dia 1 de Dezembro de 1925 foi lançada a primeira pedra para a construção do coreto da Praça da Republica, que ficaria concluído em Agosto de 1926. O novo coreto foi construído através de subscrição pública por iniciativa da comissão de briosos amigos da 1º de Dezembro, de que fazia parte o Padre António Gomes Pólvora, então prior de Montijo, sócio da Sociedade e grande apaixonado da Música. Na primeira participação, sob a orientação do maestro António Gonçalves, a Banda da Sociedade utilizando instrumentos antiquados e após inúmeros sacrifícios e peripécias de uma viagem de autocarro, onde basicamente se alimentavam de pão, queijo e conservas e que só a "carolice" podia sustentar, obteve um importante prémio entre os mais importantes bandas de todo o Mundo. Este triunfo em 1958 que muito orgulhou todos os participantes. Como a Sociedade não dispunha de meios financeiros, esta deslocação à Holanda só foi possível graças ao apoio de muitos particulares, do Governo Civil, da Fundação Calouste Gulbenkian e de algumas Firmas holandesas sedeadas em Portugal como a Philips Portuguesa e a Shell entre outras. No regresso ao Montijo, a Banda foi recebida com grandiosos festejos onde marcaram presença varias Filarmónicas do Distrito de Setúbal e colectividades locais bem como correspondentes e redactores da Imprensa e da Rádio. Sendo uma das mais emblemáticas e prestigiadas instituições da antiga Aldegalega, a Sociedade Filarmónica 1º de Dezembro continuou até aos dias de hoje a honrar o seu glorioso passado através da realização de diversas actividades culturais e desportivas, com destaque especial para a Musica e sua divulgação. O enumerar de todas as actividades desenvolvidas leva-nos a valorizar a acção exemplar da Sociedade Filarmónica 1º de Dezembro na vida cultural local, de forma ininterrupta desde meados do século XIX ate à actualidade. Para salientar apenas os prémios e condecorações mais relevantes, diremos que:Em 1876 obteve um “Prémio de Honra” no Concurso de Bandas, no Jardim dos Recreios Whittoyne em LisboaEm 1903 o “1º Prémio” no Certame Musical Cidade de SetúbalEm 1954 e ainda em Setúbal, foi considerada em concurso a “Melhor Banda do Distrito” Em 1958 e 1962 em representação de Portugal, ganhou os 2º e 3º Prémios, respectivamente da “1ª Categoria” no Concurso Mundial de Bandas Amadoras, realizado na cidade holandesa de Kerkrad. É “Coroa de Louros” da Comissão de Romeiros de Nossa Senhora da Atalaia de Santo Estêvão 1887 “Medalha de Prata de Reconhecimento, Mérito e de Homenagem” da Sociedade Cooperativa União Piscatória” 1950 “Medalha de Prata de Benemerência” do Orfanato Dr. César Ventura 1951 “Brasão da Cidade de Guimarães” – Festas Gualterianas de 1951Dupla “Medalha de Ouro” da Federação das Colectividades de Cultura e Recreio “Medalha de Prata” e “Troféu de Turismo” do Secretariado Nacional de Informação, Cultura Popular e TurismoMembro Honorário da “Ordem de Benemerência” da Presidência da Republica 1971 “Medalha de Ouro do Concelho do Montijo” 1972 “Medalha de Mérito Distrital” do Governo Civil de Setúbal 2004 Actualmente esta Sociedade Filarmónica conta com cerca de 1800 sócios. São várias as actividades praticadas por cerca de 300 praticantes das mais variadas idades, umas de carácter musical, outras de carácter desportivo, mas ao longo destes anos, o baluarte desta casa é a Banda de Música que é constituída por 45 elementos, 13 dos quais do sexo feminino. Excelente Escola formativa de grandes intérpretes musicais e que têm engrossado os diversos agrupamentos profissionais do País.